sexta-feira, 2 de maio de 2008

As principais vítimas



Os filhos são as vítimas mais prejudicadas pelo divórcio. Além de crescerem desamparados, pagam caro por uma decisão irrefletida dos pais, por um simples capricho ou por um interesse individual




O egoísmo subverte a ordem natural



“Não está nos pais, senão nos filhos, o porquê da sociedade conjugal. Na sua própria natureza traz o matrimônio a lei primordial de sua constituição. Sua razão de ser é a prole; sua constituição fundamental será a indissolubilidade que, só, reúne as condições exigidas pela criação e desenvolvimento normal das gerações futuras.
“Com o divórcio inverte-se esta hierarquia de fins naturais. Já não é a prole que dita a lei da família; é a perversão essencial. Uma legislação arbitrária dos homens, visivelmente inspirada pelo egoísmo das paixões, tenta substituir-se à ordem natural das relações que a razão serena reconhece e impõe à consciência com a inviolabilidade de um dever.
“Ora, não se perturba a harmonia racional das coisas sem provocar a crise de grandes catástrofes. A família, violentamente desconjuntada pelo divórcio dos seus gonzos naturais, entra a sofrer. Altera-se profundamente o jogo psicológico de idéias e sentimentos indispensáveis à sua existência e à evolução normal de seus elementos. Já não é um organismo adaptado à sua função. Daí desordens, insuficiências, dores, -- sintomas de um mal profundo -- que do mais humilde indivíduo estende a todo o corpo social as suas conseqüências funestas.
Estabilidade do lar: indispensável para a formação dos filhos
“A prole é a primeira vítima do divórcio, a mais digna de lástima porque a mais inocente. Entre o filho e o divórcio há um antagonismo íntimo, constante, irreconciliável. E nada demonstra tanto o caráter antinatural desta instituição quanto esta incompatibilidade absoluta com a razão de ser primordial da família.
“O primeiro efeito do divórcio é eliminar a prole. Sua tendência negativista manifesta-se logo em impedir que venham à existência os frutos naturais do matrimônio.
“É uma conseqüência imanente ao dinamismo psicológico criado pela mentalidade divorcista. A criança, por sua natureza, pede uma casa com futuro garantido. Se à solidez dos lares definitivos se substitui a mobilidade temporária das tendas, tudo o que é estável e duradouro passa a ser um móvel deslocado, um traste inútil, uma travanca a empecer a liberdade dos movimentos. Que marido quererá ser pai, se amanhã a esposa que lhe devia ser a companheira insubstituível na educação dos filhos, pode desertar a casa em busca de novas aventuras do coração? Que esposa, sobretudo, se decidirá a submeter os ombros aos deveres da maternidade, se amanhã o pai de seus filhos a pode desamparar, sem apoio e sem recursos, com quatro ou cinco serezinhos frágeis nos braços, lembranças ingratas de um amor falido, obstáculos penosos a tentativas de uma nova reconstituição da vida? Não; num lar que o divórcio pode romper não há lugar para a criança. (2)
“Espada de Dâmocles” ameaça a família
“A prole que, na ordem natural, era o fim do matrimônio, no regime divorcista é sempre um risco, amanhã talvez um obstáculo, mais tarde um remorso. E esta mentalidade hostil ao berço, generaliza-se espontaneamente onde quer que o divórcio tenha obtido uma sanção legal. Quando num país [o Brasil, por exemplo], os lares que se despedaçam cada ano, se contam por dezenas e dezenas de milhares, como não quereis que diante de uma nova família não se apresente, como possível, a eventualidade dolorosa de uma ruptura? Como não temer da fragilidade de um vínculo que a primeira inconstância humana, a veemência da primeira paixão ou as dificuldades das primeiras divergências poderão partir amanhã? E diante desta probabilidade, não será previdência espontânea, atravessar a vida escoteiro [só], para facilitar a salvação no primeiro naufrágio? (Grifos nossos)
“Como uma espada de Dâmocles, a probabilidade de uma dispersão ameaça toda a sociedade doméstica na sua existência e no exercício da primeira e mais essencial de suas funções. E este efeito desastroso [é bom que o note desde já o leitor], não o produz só o divórcio nas famílias que atinge na realidade, desarticulando-as; estende-se a toda a instituição que fere de morte, tornando-a incapaz de preencher a sua suprema razão de ser. A esterilidade não resulta do divórcio em ato, mas da sua simples possibilidade. (Grifos nossos)
“E a nação inteira começa a sofrer; arruina-se o presente e compromete-se o futuro. É uma como necessidade psicológica. Na família nova, escreve E. Lamy (3), náufragos da família destruída, objeto de discórdia entre o esposo a que pertencem e o outro a que são estranhos, intrusos para os nascidos do segundo matrimônio, os filhos do primeiro seriam para todos um embaraço e uma repreensão. O remédio será a esterilidade dos casamentos. Quanto mais fácil se volve o divórcio, tanto mais lógica se torna esta esterilidade ....
Prole – garantia da estabilidade do lar
“Escrito na legislação de um país, o divórcio é o seu gênio mau. Inimigo da sua vida, esterilizador da raça, fautor da sua decadência irremediável. .... a prole, [pelo contrário], que nas exigências da sua evolução normal, impõe aos progenitores a indissolubilidade da vida comum, com a sua simples presença, é um dos cimentos mais fortes da união conjugal.
“O filho é a expressão viva do amor dos pais. No temperamento, nas qualidades, nos traços da fisionomia que se vão definindo com os anos, traz ele, indelével, a impressão das duas vidas que se fundiram na sua. Cada nova florzinha que desabrocha no lar como que rejuvenesce com a sua frescura os encantos do primeiro amor. E, com os anos, intensificam-se os sentimentos de simpatia; apura-se o senso da responsabilidade nos encargos comuns da educação; a família toda consolida-se numa estabilidade definitiva. Os filhos, naturalmente, são os mais seguros defensores da indissolubilidade conjugal. Casal sem filhos, em país divorcista, é vítima provável da grande tentação de recomeçar o romance de novos amores.
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“Já o leitor terá chegado à conclusão espontânea destas considerações. O divórcio, por uma sua própria natureza, tende a multiplicar os lares sem filhos. Lares sem filhos, por sua própria natureza, são mais facilmente divorciáveis. Por sua própria natureza, pois, o divórcio é um dissolvente progressivo da família. É o primeiro dos seus círculos viciosos. Não é o único, infelizmente”.
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Notas:
1 - Padre Leonel Franca S. J., O Divórcio, Rio de Janeiro, Empresa Editora A.B.C. Ltda, 1936, pp. 33 a 37.
2 - Em abono desta afirmação do Pe. Leonel Franca, vemos hoje em dia a proliferação do uso de anticoncepcionais e até do aborto como meios anti-naturais de limitar a prole indesejada. Em alguns países da Europa já se fala em importar o maior número possível de imigrantes, provenientes de outras plagas, outras raças, outros costumes, outras religiões para preencher o vazio de uma população que vai decrescendo por falta de filhos e tende a desaparecer. Soa isso como maldição!
3 - E. Lamy, na introdução ao opúsculo de M. G. Noblemaire, Le complot contre la famille, p. 8.

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