Os filhos são as vítimas mais prejudicadas pelo divórcio. Além de crescerem desamparados, pagam caro por uma decisão irrefletida dos pais, por um simples capricho ou por um interesse individual
O egoísmo subverte a ordem natural
“Não está nos pais, senão nos filhos, o porquê da sociedade conjugal. Na sua própria natureza traz o matrimônio a lei primordial de sua constituição. Sua razão de ser é a prole; sua constituição fundamental será a indissolubilidade que, só, reúne as condições exigidas pela criação e desenvolvimento normal das gerações futuras.
“Com o divórcio inverte-se esta hierarquia de fins naturais. Já não é a prole que dita a lei da família; é a perversão essencial. Uma legislação arbitrária dos homens, visivelmente inspirada pelo egoísmo das paixões, tenta substituir-se à ordem natural das relações que a razão serena reconhece e impõe à consciência com a inviolabilidade de um dever.
“Ora, não se perturba a harmonia racional das coisas sem provocar a crise de grandes catástrofes. A família, violentamente desconjuntada pelo divórcio dos seus gonzos naturais, entra a sofrer. Altera-se profundamente o jogo psicológico de idéias e sentimentos indispensáveis à sua existência e à evolução normal de seus elementos. Já não é um organismo adaptado à sua função. Daí desordens, insuficiências, dores, -- sintomas de um mal profundo -- que do mais humilde indivíduo estende a todo o corpo social as suas conseqüências funestas.
Estabilidade do lar: indispensável para a formação dos filhos
“A prole é a primeira vítima do divórcio, a mais digna de lástima porque a mais inocente. Entre o filho e o divórcio há um antagonismo íntimo, constante, irreconciliável. E nada demonstra tanto o caráter antinatural desta instituição quanto esta incompatibilidade absoluta com a razão de ser primordial da família.
“O primeiro efeito do divórcio é eliminar a prole. Sua tendência negativista manifesta-se logo em impedir que venham à existência os frutos naturais do matrimônio.
“É uma conseqüência imanente ao dinamismo psicológico criado pela mentalidade divorcista. A criança, por sua natureza, pede uma casa com futuro garantido. Se à solidez dos lares definitivos se substitui a mobilidade temporária das tendas, tudo o que é estável e duradouro passa a ser um móvel deslocado, um traste inútil, uma travanca a empecer a liberdade dos movimentos. Que marido quererá ser pai, se amanhã a esposa que lhe devia ser a companheira insubstituível na educação dos filhos, pode desertar a casa em busca de novas aventuras do coração? Que esposa, sobretudo, se decidirá a submeter os ombros aos deveres da maternidade, se amanhã o pai de seus filhos a pode desamparar, sem apoio e sem recursos, com quatro ou cinco serezinhos frágeis nos braços, lembranças ingratas de um amor falido, obstáculos penosos a tentativas de uma nova reconstituição da vida? Não; num lar que o divórcio pode romper não há lugar para a criança. (2)
“Espada de Dâmocles” ameaça a família
“A prole que, na ordem natural, era o fim do matrimônio, no regime divorcista é sempre um risco, amanhã talvez um obstáculo, mais tarde um remorso. E esta mentalidade hostil ao berço, generaliza-se espontaneamente onde quer que o divórcio tenha obtido uma sanção legal. Quando num país [o Brasil, por exemplo], os lares que se despedaçam cada ano, se contam por dezenas e dezenas de milhares, como não quereis que diante de uma nova família não se apresente, como possível, a eventualidade dolorosa de uma ruptura? Como não temer da fragilidade de um vínculo que a primeira inconstância humana, a veemência da primeira paixão ou as dificuldades das primeiras divergências poderão partir amanhã? E diante desta probabilidade, não será previdência espontânea, atravessar a vida escoteiro [só], para facilitar a salvação no primeiro naufrágio? (Grifos nossos)
“Como uma espada de Dâmocles, a probabilidade de uma dispersão ameaça toda a sociedade doméstica na sua existência e no exercício da primeira e mais essencial de suas funções. E este efeito desastroso [é bom que o note desde já o leitor], não o produz só o divórcio nas famílias que atinge na realidade, desarticulando-as; estende-se a toda a instituição que fere de morte, tornando-a incapaz de preencher a sua suprema razão de ser. A esterilidade não resulta do divórcio em ato, mas da sua simples possibilidade. (Grifos nossos)
“E a nação inteira começa a sofrer; arruina-se o presente e compromete-se o futuro. É uma como necessidade psicológica. Na família nova, escreve E. Lamy (3), náufragos da família destruída, objeto de discórdia entre o esposo a que pertencem e o outro a que são estranhos, intrusos para os nascidos do segundo matrimônio, os filhos do primeiro seriam para todos um embaraço e uma repreensão. O remédio será a esterilidade dos casamentos. Quanto mais fácil se volve o divórcio, tanto mais lógica se torna esta esterilidade ....
Prole – garantia da estabilidade do lar
“Escrito na legislação de um país, o divórcio é o seu gênio mau. Inimigo da sua vida, esterilizador da raça, fautor da sua decadência irremediável. .... a prole, [pelo contrário], que nas exigências da sua evolução normal, impõe aos progenitores a indissolubilidade da vida comum, com a sua simples presença, é um dos cimentos mais fortes da união conjugal.
“O filho é a expressão viva do amor dos pais. No temperamento, nas qualidades, nos traços da fisionomia que se vão definindo com os anos, traz ele, indelével, a impressão das duas vidas que se fundiram na sua. Cada nova florzinha que desabrocha no lar como que rejuvenesce com a sua frescura os encantos do primeiro amor. E, com os anos, intensificam-se os sentimentos de simpatia; apura-se o senso da responsabilidade nos encargos comuns da educação; a família toda consolida-se numa estabilidade definitiva. Os filhos, naturalmente, são os mais seguros defensores da indissolubilidade conjugal. Casal sem filhos, em país divorcista, é vítima provável da grande tentação de recomeçar o romance de novos amores.
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“Já o leitor terá chegado à conclusão espontânea destas considerações. O divórcio, por uma sua própria natureza, tende a multiplicar os lares sem filhos. Lares sem filhos, por sua própria natureza, são mais facilmente divorciáveis. Por sua própria natureza, pois, o divórcio é um dissolvente progressivo da família. É o primeiro dos seus círculos viciosos. Não é o único, infelizmente”.
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Notas:
1 - Padre Leonel Franca S. J., O Divórcio, Rio de Janeiro, Empresa Editora A.B.C. Ltda, 1936, pp. 33 a 37.
2 - Em abono desta afirmação do Pe. Leonel Franca, vemos hoje em dia a proliferação do uso de anticoncepcionais e até do aborto como meios anti-naturais de limitar a prole indesejada. Em alguns países da Europa já se fala em importar o maior número possível de imigrantes, provenientes de outras plagas, outras raças, outros costumes, outras religiões para preencher o vazio de uma população que vai decrescendo por falta de filhos e tende a desaparecer. Soa isso como maldição!
3 - E. Lamy, na introdução ao opúsculo de M. G. Noblemaire, Le complot contre la famille, p. 8.
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