domingo, 16 de agosto de 2009

A instituição familiar na História da Civilização

Sendo a instituiçäo familiar um dos principais alvos dos promotores da corrupçäo dos costumes em nossos dias, há grande necessidade de alicerçar essa instituiçäo em conceitos sólidos, para que ela possa defender-se com mais facilidade contra o mar de lama moral que ameaça submergi-la.

Para esse efeito, publicamos a seguir trechos seletos do esplêndido livro O Espírito Familiar no Lar, na Cidade e no Estado, de Mons. Henri Delassus (em vermelho abaixo), no qual este conceituado escritor e polemista católico demonstra a importância da família na origem histórica da Civilizaçäo, como fonte de vida das sociedades, segundo os planos do Criador.




Mons. Henri Delassus (1836 - 1921)

Foi ordenado sacerdote em 1862. Como jornalista colaborou na revista "Semaine Religieuse", da diocese de Cambrai, publicaçäo esta da qual se tornou proprietário, diretor, e principal redator em 1874. Escreveu vários livros que muito contribuíram para a luta, no início desse século, contra a heresia modernista e o liberalismo, no plano religioso.

Tal combate foi dirigido pelo grande Papa Säo Pio X, que premiou esse insigne polemista francês, nomeando-o Protonotário Apostólico em 1911.

* * *

"Deus criou Adäo, e depois tirou do corpo dele a carne da qual fez o corpo de Eva. Abençoou entäo o homem e a mulher, e lhes disse: `Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei e dominai a terra'.

"Deus criou assim a família, transformou-a numa sociedade e a constituiu de acordo com um plano totalmente diverso da igualdade social: a mulher submissa ao homem e os filhos submissos aos pais.

"Nas próprias origens do gênero humano, portanto, nós encontramos as três grandes leis sociais: a autoridade, a hierarquia e a uniäo. A autoridade, que pertence aos autores da vida; a hierarquia, que torna o homem superior à mulher e os pais superiores aos filhos; e a uniäo, que deve conservar entre si aqueles que o mesmo sangue vivifica".

Os Estados säo originários dessa sociedade primeira


"A família - diz Cícero - é o princípio da cidade, e de alguma forma a semente da res publica. A família se divide, embora permanecendo unida; os irmäos, bem como seus filhos e netos, näo podendo mais abrigar-se na casa paterna, saem para fundar casas novas, como novas colônias. Eles formam alianças, donde surgem novas afinidades e o crescimento da família. Pouco a pouco as casas se multiplicam, tudo cresce, tudo se desenvolve, e nasce a res publica" (República, livro I, 7).

"Tais säo propriamente as origens do povo de Deus. No início Abraäo funda uma família nova, e dela surgem doze tribos que vêm a constituir um povo".

O mesmo aconteceu com os gentios

"Fustel de Coulanges, no seu célebre livro A Cidade Antiga, demonstrou que nas ilhas gregas, como também na Itália dos romanos, o Estado nasceu do lar doméstico. A fratria dos gregos (sociedade de irmäos), como a gens dos romanos (sociedade das famílias formadas a partir do mesmo tronco), eram apenas uma família mais ampliada reunida sob um mesmo chefe, que em Roma tinha o nome de pai, pater, e em Atenas o de Eupátrida, pai bom.

"Na origem das civilizaçöes assíria, egípcia e outras encontram-se também uma família ou algumas famílias que se desenvolvem, e em torno das quais outras famílias vêm se agrupar para formar a tribo, e depois as tribos se aglomeram para formar as naçöes"....

Família enquanto geradora da pátria

"O conjunto das pessoas sob a autoridade do pai de família chama-se família. A partir do século X, [na França] o conjunto das pessoas reunidas sob a autoridade do senhor, chefe da mesnie, (*) chama-se família. O conjunto das pessoas reunidas sob a autoridade do baräo, chefe do feudo, chama-se família. E veremos que o conjunto das famílias francesas foi governado como uma família.

"O território sobre o qual se exerciam essas diversas autoridades, quer se tratasse do chefe de família, do chefe da mesnie, do baräo feudal ou do rei, era denominado da mesma forma nos documentos: pátria, o domínio do pai. `A pátria -- diz Funck-Brentano -- foi na sua origem o território da família, a terra do pai. O uso da palavra se estendeu à terra senhorial e ao reino inteiro, em que o rei era o pai do povo. O conjunto dos territórios sobre os quais se exercia a autoridade do rei chamava-se pátria'"....

Papel da família como celula mater

"Por toda parte a civilizaçäo começou pela família. Aqui e ali nascem homens nos quais se desenvolvem e atuam mais poderosamente o amor paterno e o desejo de se perpetuar nos seus descendentes. Eles se dedicam ao trabalho com mais ardor, impöem aos seus apetites um freio mais contínuo e mais sólido, governam sua família com mais autoridade, inspiram-lhe costumes mais severos, que eles imprimem nos hábitos que a fazem contrair. Esses hábitos se transmitem pela educaçäo, e se tornam tradiçöes que mantêm as novas geraçöes na via aberta pelos ancestrais. A marcha nessa via conduz a família a uma situaçäo cada vez mais alta. Ao mesmo tempo, a uniäo que conservam entre si todos os ramos do tronco primitivo lhes dá uma pujança que cresce dia a dia, com o número que se multiplica e as riquezas que se acumulam pelo trabalho de todos.

"Nessa situaçäo eminente, esta família torna-se o centro de atençäo daquelas que a circundam. Estas lhe pedem abrigo e proteçäo, e em contrapartida prometem assistência. Entre eles há os que se sentem estimulados pela prosperidade que presenciam, e a ambicionam para si mesmos, deixando-se governar e instruir, esforçando-se por praticar as virtudes cujos exemplos e resultados eles têm diante dos olhos"....

Papel da família na edificação da Cristandade

"No caso da França, em meio às ruínas acumuladas pelas invasöes dos bárbaros [principalmente dos normandos e magiares a partir do século X], näo havia mais ordem, porque näo havia mais autoridade. Sob a açäo dos santos, várias famílias se ergueram, animadas pelos sentimentos que o cristianismo começava a difundir no mundo: sentimentos de devotamento pelos pequenos e os fracos, sentimentos de concórdia e amor entre todos, sentimentos de reconhecimento e de fidelidade para com os protegidos. A hagiografia dessa época nos faz assistir por todo lado a esse espetáculo de famílias que se erguem desse modo acima das outras, pela força das suas virtudes.

"Acima de todas se ergueu, no século X, a família de Hugo Capeto, que edificou a França pela paciência do seu espírito, pela perseverança do seu devotamento, pela continuidade dos seus serviços. É necessário acrescentar: `E pela vontade e a graça de Deus'. Quando o Conde de Maistre ressaltou a frase da Sagrada Escritura `Sou Eu que faço os reis', ele näo deixou de acrescentar: `Isto näo é uma metáfora, mas uma lei do mundo político. Ao pé da letra, Deus faz os reis. Ele prepara as raças reais, e as amadurece em meio a uma nuvem que esconde as suas origens. Assim elas aparecem coroadas de glória e honra'".

(Mgr. Henri Delassus, L'Esprit Familial dans la Maison, dans la Cité et dans l'État, Société Saint-Augustin, Desclée, De Brouwer, Lille, 1910, pp. 11-21).

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(*) Mesnie, magnie, maison: casa, família, como se diz ainda hoje "a casa de França".

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